sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Brecht no grupo Crinabel Teatro, por Duarte Ivo Cruz


Deve antes de mais referir-se que é notável a selecção de repertórios do Teatro da Crinabel, a adequação das dramaturgias e das adaptações, que nunca fogem dos textos originais, por exigentes que sejam, e sobretudo, a qualidade cénica e a beleza plástica das encenações e da direcção de actores. Acompanho esta obra, única no país, há mais de 25 anos, pelas razões óbvias que as fichas técnicas dos espectáculos elucidam, mas também por apreciar a própria qualidade em si, e poder comparar: escrevo sobre teatro - espectáculo há exactos 52 anos, participei na formação de actores, a nível universitário e politécnico desde 1984 até ao passado ano, publiquei para cima de 20 livros de História de Teatro … acho que sei do que falo.
E falo de um grupo de artistas, que, com as dificuldades que se conhecem, mantém um repertório que vai de Gil Vicente a Lorca, de Samuel Beckett a Franz Kafka, de James Joyce a Fernando Pessoa, e que agora se lança na aventura de uma belíssima adaptação de Brecht.
Ora Brecht, goste-se ou não dos conteúdos, é um dos grandes nomes referenciais do Teatro mundial do século XX. Os seus grandes textos foram representados nos EUA, onde o autor vivia durante a 2ª Guerra e em Berlim Leste, onde este alemão se fixou depois de finda a Guerra e até à sua morte, em 1956. E depois, em todo o mundo!
Ninguém questionou nem questiona a qualidade e a necessidade de representar Brecht: foi representado em Portugal passando à censura de Salazar – e foi o primeiro espectáculo encenado em Lisboa logo depois do 25 de Abril.
Se venho com esta conversa, é para sublinhar o seguinte: o que realmente conta neste pequeno texto de Brecht é o conjunto de características especificamente dramáticas que o tornam singular e inovador: a técnica narrativa, evocação remota do coro da tragédia grega, o efeito de distanciamento que racionaliza a acção perante o espectador, o qual ouve e vê contar uma história mas não se envolve emocional ou mesmo ideologicamente nela, o sentido colectivista e não individualista dos conflitos, a linguagem poética extremamente bela.

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