Comunicação
Inclusão pela Arte
Nos últimos anos, as equipas que trabalham nas mais variadas áreas de intervenção junto de grupos sócias minoritários, têm encontrado constantes variantes nas terminologias e conceitos, aplicados ao enquadramento destas pessoas e projectos na vida social activa.
Um exemplo: nas instituições ligadas à deficiência, as crianças ou meninos (independentemente da faixa etária em questão), passaram a jovens, depois a utentes e agora são denominados clientes das instituições que os recebem.
No que toca ás artes: o teatro feito por pessoas portadoras de deficiência, já foi denominado de Teatro especial, Teatro Social, ou mais recentemente de Teatro Inclusivo, procurando assim sublinhar o enquadramento e a importância destes projectos na afirmação dos deveres e dos direitos da pessoa portadora de deficiência.
A palavra inclusão pressupõem o enquadramento de determinada pessoa colectiva ou singular na dinâmica comum do quotidiano social. E na verdade utilizamos mais vezes do que julgamos, este conceito de inclusão. Na verdade cada um de nós ambiciona de uma ou de outra maneira a possibilidade de inclusão na dinâmica social, participando com aquilo que nos é possível participar profissionalmente ou pessoalmente na orgânica colectiva.
Desde a infância qualquer um de nós, independentemente da sua condição, pretende incluir e ser incluído.
A essência da palavra, julgo ser sempre a mesma, a sua força apenas varia, quando transportada entre contextos.
Denominações...
Eu gosto de pensar em homens e mulheres, em teatro, musica, pintura, dança, e na forte possibilidade de utilizar as diferenças intrínsecas de cada individuo para potenciar o nascimento de um pensamento colectivo e de uma respectiva posição sobre algo.
E de facto a Arte em geral permite esta comunhão.
Em 1986 a quando do nascimento do projecto Crinabel Teatro, o nosso pais, debatia-se ainda mais do que nos dias de hoje, com a dificuldade de encontrar espaços onde a educação, formação e ocupação da pessoas portadora de deficiência se pudesse discutir, estruturar e tornar realidade.
Eram ainda frágeis, as metodologias de intervenção, o trabalho era ainda empírico e urgia a necessidade de encontrar alternativas que possibilitassem não só o desenvolvimento qualitativo da vida destes cidadãos, como também a sua aproximação a uma sociedade da qual estavam profundamente desligados.
As artes vieram desbloquear algumas destas questões. A partir do teatro, da dança, da musica ou da expressão plástica, foi possível encontrar um caminho que permitiu uma exploração da criatividade destas pessoas. E a cima de tudo promoveram uma aproximação à comunidade envolvente e mesmo ás próprias famílias, que encontraram nos seus familiares capacidades até ai desconhecidas.
Os espectáculo ou exposições iam acontecendo cada vez mais fora do muro das instituições e o efeito de contaminação possibilitava que outros núcleos ou instituições ligadas à deficiência reconhecessem os benefícios da utilização das expressões artísticas no desenvolvimento psico/motor destas pessoas e desenvolvessem novos projectos e propostas junto destas populações.
E se em meados dos anos 80 se contavam pelos dedos os projectos de educação pela arte no seio da realidade da deficiência, hoje em dia são inúmeros os projectos válidos e de trabalho continuo. O técnicos que foram chegando a estes projectos trazem já uma formação mais sólida, tanto no campo pedagógico, da deficiência ou mesmo da criação artística o que permitiu um crescimento quantitativo e qualitativo dos projectos e acções desenvolvidas. Mas ainda há muito a fazer...
Contudo, hoje em dia, a discussão em torno destes projectos já não se foca apenas e só nos benefícios educativos e de formação social e individual. Começa-se a discutir e a trabalhar noutros sentidos. Num aperfeiçoamento das técnicas teatrais, numa procura de identidade artística e estética dos projectos, numa busca por uma consciência sobre aquilo que se faz e acima de tudo na estruturação de um discurso e de uma posição dos intervenientes nestas iniciativas naquilo que produzem.
Queremos discutir as sociedades , as culturas e as suas posições éticas e ideológicas, e não encerrarmo-nos na realidade de um grupo social e cremos a cima de tudo que o publico que acompanha estes projectos, veja para alem dos rostos e dos corpos que ali estão à sua frente.
Há sua frente estão Homens e Mulheres que querem discutir o mundo, querem relê-lo querem utilizar a visão e a ideia que tem dele e encontrar as diversas formas de o habitar.
E é este o papel do teatro: se o Teatro se alimenta do que a Humanidade construiu, é necessário encarar essa Humanidade, conscientes da sua pluralidade.
Considero que o Teatro deve tanto aos grandes mitos como ás pequenas historias. Por isso, ele pertence ás gentes e não aos sistemas. A criação e a exploração da criatividade é um direito de qual quer um e a escolha das artes para firmar um discurso sobre a nossa relação com os outros e com nós mesmos é uma opção reservada a cada individuo.
Marco Paiva
Beja, 30 de Abril de 2011
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